Crush em Hi-Fi

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Moriaty, o duo de Devon que se inspira em Sherlock Holmes, serial killers e teoria de cordas para criar seu “filthy indie blues”

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“Eu vou quebrar você, Holmes. Eu vou trazer para bem debaixo do seu nariz o mais incrível crime do século, e você nunca vai suspeitar até que seja tarde demais. Esse será o fim de você, Sr. Sherlock Holmes. E quando eu o tiver derrotado e arruinado, poderei me aposentar em paz. Eu gostaria de me aposentar, o crime já não me diverte. Eu gostaria de dedicar meus anos restantes para a ciência abstrata”. O lado sombrio e nonsense de Professor Moriarty, um dos grandes inimigos de Sherlock Holmes, é a inspiração para o nome do duo Moriaty. “Percebemos que nossa música era pesada e sombria liricamente… essa combinação de escuridão e intelecto gritava Moriarty – além disso, soa muito bem!” diz Jordan West, vocalista e guitarrista da dupla, que também conta com Matthew Partridge na bateria, vocais e “ruivice”, segundo a página deles no Facebook.

A energia bruta da dupla tem atraído a atenção de grandes festivais, organizadores de shows e, claro, muitos fãs. “Se eu fosse de uma banda, que fosse o Moriaty”, disse James Santer, da BBC. Já o resenha da Revista 247 para o disco “The Devil’s Child”, de 2014, diz que a dupla “não está aqui para agradar estereótipos. A dupla está claramente se divertindo, desprovida de agenda e pura de propósito. Bravo!”

O Moriaty acabou de lançar seu novo single, “Bones” e já planeja outros singles, um EP, disco ao vivo e documentário ainda em 2015. Conversei com Jordan sobre a carreira da dupla, suas inspirações e como o Professor Moriarty entra no som do Moriaty:

– Como a banda começou?

Fomos juntos a um festival na Escócia alguns anos atrás. Nos conhecíamos de algumas bandas em que tocamos e apenas decidimos fazer barulho… antes que pudéssemos perceber, as coisas já estavam começando a decolar.

– O nome da banda veio do Professor Moriarty, um personagem das histórias de Sherlock Holmes. Como o personagem e o universo de Holmes influenciou vocês?

Eu amo Sherlock, acho que Moriarty é o perfeito inimigo dele. Quando começamos a escrever música, percebemos que era pesada e sombria liricamente. Eu gosto de escrever sobre coisas que acho interessantes, como serial killers, teoria das cordas, literatura… então essa combinação de escuridão e intelecto gritava Moriarty – além disso, soa muito bem!

– Quais são suas maiores influências musicais?

Blues, todos de Son House a Chuck Berry. Rage Against the Machine. Muse. Black Sabbath. Supergrass. Oasis. Led Zeppelin. Hendrix. Johnny Cash. Dylan… Esse tipo de coisa…

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– Vocês fazem um som alto e sujo. Acham que esse tipo de música está em falta hoje em dia?

Acho que está voltando. A energia que toda a indústria musical está colocando no Royal Blood atualmente prova isso.

– O que você acha das músicas que estão sendo lançadas hoje em dia?

A música de hoje é ótima. Há uma infinidade de músicos criando coisas incríveis por todo o mundo. A internet fez do mundo inteiro uma loja de discos e tem muita coisa por aí. As paradas pop não são um indicativo do que está rolando, e pessoas estão ganhando dinheiro com música sem terem um “contrato”. É uma nova era.

– Vocês são um power duo. Porque o baixista é tão “desnecessário” no mundo do rock hoje em dia?

O baixo sempre tem seu espaço. O motivo de tantas duplas de rock estarem começando é que é mais fácil. Todo mundo está sempre ocupado… Bandas com duas pessoas precisam de menos equipamento, menos organização, têm mais liberdade e ganham mais dinheiro – faz sentido!

– Chris Wolstenholme, do Muse, é seu baixista “não-oficial”. Ele dá apenas uma ajuda ou você pretendem incorporá-lo de vez no Moriaty?

Na verdade ele apenas gostou das faixas que pariticipou. Ele se ofereceu pra ajudar e nós agradecemos muito por isso. Sempre vai haver um lugar no Moriaty se ele quiser, mas ele nos ajudou porque é um cara bacana, um amigo e um fã da banda. Ele na verdade não é nosso baixista “não oficial” ou algo assim, ele é do Muse!

– Você disse que já trabalharam com vários rappers, cantores, poetas, baixistas… Pode me contar um pouco dessas colaborações?

Fizemos algumas coisas com a banda The Scribes. Eles são um grupo incrível de hip hop do sudoeste da Inglaterra. Estamos planejando gravar um EP com eles este ano, o que vai ser bem legal. Nosso disco tem participações de Kelly Naish e Mark Tam cantando e em algumas falas. Esperamos fazer muito mais no futuro.

– Você pode me contar um pouco mais sobre sua discografia? Adorei o que ouvi no EP “Esperanza” e em “The Devil’s Child”.

Nós também lançamos alguns outros EP’s, “The Lord Blackwood EP” foi o nosso primeiro e “Never Too Heavy” o segundo, além de dois singles, “Mindsweeper” e, claro, “Bones”. Também temos o “Jealous MF” 7”, uma música que saiu apenas em vinil que gravamos com Chris Wolstenholme.

– A cultura do álbum está morta? As pessoas preferem ouvir apenas os singles atualmente?

Os discos não estão mortos nem nunca morrerão. Mas têm diminuído e continuam diminuindo. Spotify, iTunes, Youtube e afins estão tirando a necessidade de se ouvir a obra inteira para ter o que se quer. Então as crianças idiotas de hoje que escutam música idiota e repetitiva sobre sexo sem pratos podem baixar ou ouvir por streaming músicas soltas. Agora, as crianças que que realmente gostam de música vão comprar o disco de suas bandas preferidas e ouví-lo repetidamente. Sempre o farão… são apenas menos pessoas, agora!

– O site da banda diz que vocês “se inspiram na história, não em babacas com óculos falsos”. Esse cutucão é pra quem?

Sim, para as pessoas de Londres aproximadamente 5 anos atrás… hoje em dia eles têm skates, barbas e tatuagens também!

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– Vocês acabaram de lançar o single “Bones”. Quais são os próximos passos do Moriaty?

O próximo single está quase sendo finalizado e depois teremos mais alguns singles, um EP com The Scribes, algo ao vivo e outro documentário.

– Que bandas chamaram a sua atenção atualmente?

Patrons!

– Podemos esperar a visita do Moriaty no Brasil em breve?

Nós adoraríamos, nunca se sabe o que vai acontecer a seguir…

Ouça o EP “Esperanza” completo aqui:

The Hunted Crows fala sobre seu som, bandas de dois integrantes e promete novos singles

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Acho que o The Hunted Crows foi a minha primeira descoberta do final de 2014/começo de 2015 que realmente me deixou impressionado. Quando dei o play em “Sniff You Out” pela primeira vez, jurei que era alguma banda que já estava nas paradas de sucesso. Afinal, o barulho dos australianos não deve nada ao do Royal Blood, que ganhou notoriedade após um elogio de Dave Grohl.
Com o EP “The Hunted Crows” esbanjando riffs vigorosos e bateria violenta, o duo de Melbourne promete dominar o mundo em breve. Por enquanto, tocam toda quinta-feira no bar Yah Yahs, na Austrália.
A dupla Luy Amiel e Jacob Linnett me deu uma entrevista e falou um pouco sobre o início da banda, as duplas de rock que estão surgindo e as dores e delícias de se começar uma banda de rock em um mundo dominado pelo pop.

– Como a banda começou?
Tocávamos juntos em outras bandas e sempre sentimos que havia uma cerca química entre nós. Pouco mais de um ano atrás, decidimos ver o que podíamos fazer sozinhos, e desde então não olhamos pra trás!
– Eu sei que essa é a pergunta mais clichês de todos os tempos, mas… como surgiu o nome The Hunted Crows?
Na verdade nós tiramos as palavras de dentro de um chapéu! Inclusive, o engraçado é que as primeiras palavras que saíram foram “Deep” e “Purple”. Por questões óbvias, tiramos novas palavras!
– Li alguns artigos que comparavam seu som com “as faixas mais raivosas dos White Stripes”. Vocês concordam?
Sim e não! Eu acho que definitivamente existem elementos do nosso som que podem ser comparados ao do White Stripes, e acho que qualquer banda com uma formação como a nossa será fatalmente comparada com eles. Mas nós não temos muita influência de outros duos – achamos que se olharmos as músicas que amamos (sejam de duplas ou não!) e nos inspirarmos nelas, podemos começar a criar coisas novas que outros duos ainda não exploraram!
Capa do EP "The Hunted Crows"

Capa do EP “The Hunted Crows”

– Quem vocês diriam que são as maiores influências musicais da banda?
 Rage Against the Machine, Queens of the Stone Age, Red Hot Chili Peppers, James Brown, Britney Spears
– Vocês são uma dupla. O “power duo” é uma coisa “cool” nos dias de hoje, com o sucesso de bandas como o White Stripes, The Kills, Black Keys e Royal Blood. Porque o terceiro membro está tão obsoleto?
Bom, na nossa situação, foi por acaso – achamos que seria uma ideia divertida tocar só nós dois depois de tocarmos juntos em algumas bandas de quatro integrantes. Somos bons, amigos, então saiu algo meio orgânico. Na verdade não importa quantas pessoas estão na banda – contanto que a música seja boa! Mas acredito que existem algumas vantagens de se tocar em um duo. Duas pessoas interagindo entre si é algo muito mais fácil para se trabalhar do que com cinco pessoas. Também facilita em tomar decisões – mesmo que sejam apenas definir datas de ensaio e etc.
Ao mesmo tempo, existem limitações – e não apenas musicais. Uma limitação grande (especialmente neste momento, em que a banda nos custa dinheiro) é quando temos que economizar para gravar ou algo assim – dividir os custos entre duas pessoas pode ser bem difícil. Mas também temos apenas dois vôos pra pagar, então alguns custos são reduzidos, neste caso! Então, tudo depende do estágio financeiro em que a banda está. Tenho certeza que o Royal Blood está muito feliz que está dividindo os lucros entre apenas duas pessoas!
– Que outros aspectos do mundo inspiram vocês?
 De certa forma, política. Nenhum de nós é super informado sobre os prós e contras do sistema político – mas isso não significa que você não pode ficar irritado ou frustrado quando ouve sobre coisas horríveis que o governo pode estar planejando. “Hungry Wolves” foi escrita quando nosso primeiro ministro, Tony Abbott, estava tentando devastar um grande lote de mata virgem. Porém, não queríamos escrever uma música sobre essa situação especificamente – é mais algo que espero que pode desencadear algum sentimento em outras pessoas, para se impor pelo que acreditam.
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– Qual o maior desafio para uma banda nova?
Trabalhar com as limitações de uma banda com duas pessoas, ganhar reconhecimento local e global (o que agora é possível graças à internet!) e o principal deles: DINHEIRO! Quem sabe um dia nós poderemos trabalhar duro para fazer música e não ter que nos preocuparmos em PAGAR por isso!
– Que bandas novas impressionaram vocês ultimamente?
Redcoats // Clowns // Lurch & Chief // Alice Ivy – todas bandas de Melbourne, Austrália!
– Quais serão os próximos passos do The Hunted Crows?
Gravaremos algumas músicas para o primeiro semestre de 2015 e estamos planejando fazer alguns shows maiores e tocar em lugares para onde ainda não fomos.
– O que vocês acham da música que está sendo lançada hoje em dia?
Se você está perguntando no que se refere à música pop, não temos muita opinião, mas existe uma cena de funk e groove voltando (pelo menos aqui na Austrália), e isso é uma coisa incrível. Tem muita coisa ótima acontecendo e está começando a chegar no mainstream, acredito que porque muitas pessoas estão cansadas da música pop monótona que nos empurram garganta abaixo. A cena punk aqui também está indo muito bem. Tem muito rock fermentando por aqui no momento e nós não poderíamos estar mais felizes.
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– Se vocês pudessem fazer cover de QUALQUER música, qual seria?
“Zebra”, do John Butler Trio. Nós dois crescemos ouvindo o JBT, e estamos tocando essa nos últimos  shows – em uma versão bem mais pesada. É bem divertido!
– Vocês estão gravando coisas novas? Podemos esperar um disco completo em breve?
Talvez não um disco completo – mas lançaremos pelo menos dois novos singles este ano. Se tudo der certo, poderemos financeiramente produzir ainda mais – quem sabe um EP! Nós preferimos gastar um monte de dinheiro em algumas poucas músicas, mas ter a certeza de que a qualidade da gravação é realmente profissional – porque uma vez que está online, está lá pra sempre!
– Podemos esperar uma visita dos Hunted Crows no Brasil? 
A gente ia amar! Se existir demanda o suficiente pra isso, adoraríamos – o blog Crush em Hi-Fi fez um trabalho incrível em espalhar nosso som por aí – então quanto mais pessoas compartilhando nossa música no maravilhoso Brasil, melhor!
Ouça o EP “The Hunted Crows”:

O rock sem rock que assola o mundo

Vamos ser sinceros: o rock não morreu. Aliás, nunca morrerá, enquanto tivermos nossos discos dos Stooges e continuarmos a ouvir o David Bowie e os Ramones. Enquanto existir na face da Terra um disco dos Rolling Stones, o rock permanece vivo e chutando.

Porém, ele não está mais aparecendo muito na mídia. Afinal, o “indie” que faz a cabeça do atual público “roqueiro”, em sua maioria, poderia muito bem ser um popzinho disfarçado. O que anda por aí é um ~rock~ muito do domesticado e bunda mole. Isso não necessariamente significa que as músicas em questão são ruins ou abomináveis, mas não tenho coragem de classificá-las como “rock”, sendo que até um som do Dr. Silvana soa mais selvagem.

Vamos a um exemplo e eu explicarei minha opinião:

Este é o Foster The People com o sucesso “Pumped Up Kicks”, que tocou até cansar nas “rádios rock” e nas baladas ditas “rockers” da Rua Augusta. Eu me pergunto: cadê o rock dessa música? Vocalzinho cheio de efeitos, batidinha “pra dançar”… mas cadê as guitarras? Cadê a virada de bateria? Cadê a rebeldia? Não existe. É o rock Sucrilhos, pra ouvir com seus pais no café da manhã.

Outro exemplo? Tá, vou jogar, só pra não dizerem que é essa música específica:

Nem preciso mudar meu texto, então só vou mudar os nomes e ctrl+c ctrl+v na cabeça:

Este é o Foster The People Fun com o sucesso “Pumped Up Kicks” “We Are Young”, que tocou até cansar nas “rádios rock” e nas baladas ditas “rockers” da Rua Augusta. Cadê o rock dessa música? Vocalzinho cheio de efeitos, batidinha “pra dançar”… mas cadê as guitarras? Cadê a virada de bateria? Cadê a rebeldia? Não existe. É o rock Sucrilhos, pra ouvir com seus pais no café da manhã.

Um dia desses eu estava discotecando em uma festa pop e veio uma menina me pedir uma música. Pediu a (já saturada) “Do I Wanna Know”, do Arctic Monkeys. Expliquei que havia uma pista dedicada ao rock na festa, e que esta poderia ser tocada lá. Ela me retrucou com “Mas essa não é rock, é indie“. Será que ela estava tão errada assim?

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