Crush em Hi-Fi

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Solomon Death assina a trilha sonora do quadrinho “Apagão – Cidade Sem Lei/Luz”, de Raphael Fernandes e Camaleão

Imagem2Imagine que um dia a energia elétrica de todo o país acabe, sem previsão de voltar. Nada de tomadas, luz elétrica e muito menos telefones, rádio, TV e internet. As pessoas, assustadas, passam a formar gangues de acordo com suas ideologias, criando algo como um “Warriors” com nazistas, PMs sedentos por sangue, fanáticos religiosos que pregam o ódio, feministas extremas… Parece desesperador? Esse é o ponto de partida de “Apagão – Cidade Sem Lei/Luz”, com roteiro de Raphael Fernandes e desenhos de Camaleão (Revista Mad). O quadrinho, lançado pela editora Draco, ganhou uma trilha sonora que acompanhada o clima de desespero e violência.

Assinada por Solomon Death, projeto de Ron Selistre (ex-Damn Laser Vampires), a trilha acompanha a ascenção da gangue de capoeiristas Macacos Urbanos, uma das poucas que parece ter bom senso e quer reestabelecer a ordem em meio ao caos insano que o mundo se torna após o fim da eletricidade.

O lançamento de “Apagão” acontece em São Paulo no dia 25 de abril, na loja Geek da Livraria Cultura, no Conjunto Nacional, e no dia 2 de maio, na loja Comix Book Shop, na Alameda Jaú.

Conversei com Raphael e Ron sobre a trilha sonora e o projeto “Apagão – Cidade Sem Luz/Lei”:

– Vamos começar do começo: como rolou o convite pra fazer a trilha sonora do projeto Apagão?

Raphael: Quando tive a ideia de que “Apagão” poderia ter uma trilha sonora, eu não tive dúvidas. Procurei o Ron Selistre e falei que queria uma trilha do Damn Laser Vampires. A parte triste é que soube em primeira mão que o DLV havia encerrado suas atividades. Foi quando o Ron me falou que tinha um projeto paralelo chamado Solomon Death e me mandou um link do Soundcloud. O negócio não era o punk de garagem dos DLV, mas era um pós-punk extremamente competente e sinistro. Não tive dúvidas, queria aquele clima pra “Apagão: Cidade Sem Lei/Luz”.

Raphael Fernandes (Foto por Rafael Roncato)

Raphael Fernandes, autor de “Apagão”

Ron, qual foi a inspiração para criar as músicas da trilha de Apagão? Quais influências musicais você diria que as composições tem?

Ron: Acho que foi um processo automático, no sentido de uma coisa naturalmente puxar a outra; eu não tinha lido a HQ ainda, mas a descrição que o Rapha me passou era bastante tridimensional. Uma guerra de gangues durante um black-out em São Paulo, envolvendo capoeira, skate e algum misticismo, isso foi o suficiente pra me instigar. As próprias influências que ele e o Camaleão tinham pesquisado pra fazer a história já traziam muita música embutida: “Warriors”, por exemplo, tem uma trilha clássica. Mas não era minha intenção seguir aquela linha, acho que ela foi bastante reeditada por muita gente. E uma das coisas que me atraía era a ideia de compor uma trilha pra uma história sombria e violenta sem precisar necessariamente apelar pra algo hardcore. A violência, o perigo, a tensão precisavam estar na música, mas num nível mais “frio na espinha” e menos soco na cara. Durante as conversas com o Rapha ele mencionou a trilha do game Streets of Rage, e foi quando fez sentido qual era a direção a seguir – a trilha de Apagão seria algo nostálgico, alguma coisa que combinasse com a estética dos games dos 90. O que tem relação nítida com o que o Vangelis fez pro Blade Runner, ele foi inegavelmente uma influência forte.

– A história já começa citando “Bichos Escrotos”, dos Titãs, em suas primeiras páginas. Esta música influenciou em algum sentido a trilha?

Raphael – Não sei se o Ron teve acesso a essa informação quando começou a gravar, pois eu estava falando com o Nando Reis para conseguir a autorização. O que posso afirmar é que eu e o Camaleão fomos influenciados pela música desde o começo. Praticamente escrevemos a abertura de Apagão como uma abertura de filme com uma trilha sonora forte. O Camaleão é doente por música dos anos 80 e fiz questão de colocar algo desse período para ele desenhar!

Ron – Sobre a inclusão de “Bichos Escrotos” na HQ, eu só soube muito depois que a trilha já estava adiantada. Achei que tem tudo a ver. Apesar da história ser ambientada num tom futurista, sempre a imagino como algo totalmente inserido no pós-punk brasileiro dos 80, aquele cenário Carecas do ABC. Numa realidade paralela, “Apagão” pode ter sido lançada em capítulos num zine em xerox ali por 86.

Imagem1Falem 5 músicas que vocês escolheriam para colocar em uma playlist se vivessem no universo de Apagão. (Lógico, se tivessem a sorte de ter um celular, walkman ou mp3 player com bateria!)

Raphael – Eu sempre monto trilhas sonoras para ouvir enquanto escrevo e edito meus projetos. Posso dizer que as 5 mais importantes para este projeto foram:
“Pânico em SP”Inocentes
“Oi, tudo bem?”Garotos Podres
“São Paulo”365
“Isto é Olho Seco”Olho Seco
“São Paulo By Day (Trombadinhas da Cidade)”Joelho de Porco

Ron – Minha playlist no universo de Apagão seria:
“Sobre as Pernas”, Akira S e as Garotas que Erraram
“Tão Perto”, do Cabine C
“Proteção”, da Plebe Rude
“Gotham City”, do Camisa de Vênus
“Me Perco Nesse Tempo” das Mercenárias

Raphael – Cara, praticamente a outra metade da minha trilha. (Risos)

– O que rolou com o Damn Laser Vampires e qual é a proposta do Solomon Death?

O DLV terminou porque chegamos numa conclusão pra história. Era o fim daquele trabalho, só isso. Ninguém brigou, ninguém se separou, pelo contrário. Tivemos um meio e um início incomuns. Decidimos que teríamos um fim incomum. O Solomon Death é essencialmente uma coleção de baladas e canções synth pop gravadas com tecnologia muitíssimo baixa. Sou eu, um computador e às vezes um violão ou uma guitarra. Me dá muito prazer fazer isso.

– Qual a importância da trilha sonora para uma história em quadrinhos?

Ron: Eu costumava ler ouvindo música, especialmente quadrinhos. Hoje gosto de ler em total silêncio, mas é diferente pra cada pessoa. O Rapha, na condição de autor, pode falar melhor sobre a ideia dele de pensar em uma trilha pra “Apagão”; na minha visão, quadrinhos são uma mídia tão espetacularmente rica que em muitos casos você pode ouvir música ali sem existir realmente uma trilha sonora. A trilha de Apagão é um “nível extra” na coisa, uma materialização dessa ideia.

Raphael: Concordo com o Ron, a trilha sonora é a oportunidade de uma nova experiência de leitura. Afinal, as HQs acabam gerando sons e efeitos no leitor apenas através de sua riquíssima linguagem.

11130050_789232991173204_1657630918_n– Ron, você já havia feito alguma trilha sonora antes?

Ron: Fiz as trilhas das campanhas de lançamento do Fantaspoa (o Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre), do qual fui diretor de arte, nas últimas três edições.

– Quais são suas trilhas sonoras preferidas?

Ron: São muitas. Ficaria dando nomes de trilhas até amanhã. Vou citar três. “Bram Stoker’s Dracula” do Wojciech Kilar, a trilogia Star Wars do John Williams, e “Blade Runner” do Vangelis. E das mais recentes, a trilha do “Drive” é absolutamente perfeita. Fora do “formatão Hollywood” eu amo o que o Neil Young fez em “Dead Man”.

Raphael: Minhas trilhas favoritas são nada a ver com “Apagão”. Meu primeiro CD foi a trilha de “Batman Forever”, que eu gosto até hoje. Outra que ouvi bastante foi a trilha de “Alta Fidelidade”. Recentemente, eu me vi apaixonado pelas trilhas de “Scott Pilgrim Contra o Mundo” e “Guardiões da Galáxia”.

– É a primeira trilha sonora de quadrinhos que eu conheço. Esse tipo de trilha já rola normalmente?

Ron: Não tenho notícia de outras trilhas de HQ, mas imagino que existam. Presumo que vamos começar a ver mais. Seria legal.

Raphael: Existem outras trilhas sonoras, como a trilha de “Achados e Perdidos”, que foi a grande inspiração para fazer um para “Apagão”. “Achados” foi o primeiro projeto de quadrinhos financiado através do Catarse. No entanto, eu já vi o contrário. Um disco que gerou uma história em quadrinhos: “Greendale”, de Neil Young.

– O quanto a trilha sonora de Apagão influencia na experiência do leitor?

Ron: Espero que seja uma soma na experiência. Mesmo antes de a HQ sair, a gente já tem relatos de pessoas que dizem usar a trilha pra trabalhar, o que sugere que ela ajuda em algum processo criativo. Ler é um processo de co-criação, então acho que conseguimos alguma coisa.

Raphael: Nossa ideia é que a trilha sonora levasse o leitor para dentro daquele universo tenso e sinistro de uma cidade grande dominada pelo caos e a violência. O trabalho do Ron superou em muito qualquer das minhas expectativas e acrescenta bastante à obra.

envelopeju.cdrOuça a trilha de Solomon Death para “Apagão – Cidade Sem Lei/Luz” aqui:

T-Shirtaholic: “Bichos Escrotos”, “MJ Division” e “Thug Life”

A primeira camiseta de hoje é sobre a única música do clássico “Cabeça Dinossauro”, dos Titãs, que foi censurada e não podia ser reproduzida em rádios e TV. Se você não sacou a relação entre as imagens da camiseta e a música… poxa, ouve de novo. Você precisa. Agora.
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Esta camiseta mostra o jovem Michael Jackson na época do Jackson 5 como um fã de Joy Division. Ou um grande frequentador do Tumblr, sei lá.

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Justin Bieber fez o que quase todas crianças prodígio da música fazem: virou um bad boy a la Axl Rose e tá quebrando tudo que encontra por aí. Fizeram uma camiseta em homenagem às peripécias do cantor de “Baby”.

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O momento bunda-mole que toda banda atinge

Acho que é melhor eu começar explicando o que eu quero dizer com o título, e depois dissertar sobre o que eu quero dizer com “bunda-mole”. Bom, muitas bandas de rock começam sua carreira com discos crus, pesados, rápidos e mostrando tudo que é a essência musical daquele grupo de pessoas. Todas suas influências, sua pegada e espontaneidade estão ali, impressas. Porém, conforme a carreira vai se desenrolando, o som acaba mudando. Em alguns casos, para direções interessantes, inclusive, mas algo quase sempre acontece: cedo ou tarde eles acabam colocando canções bunda-mole que nunca estariam presentes nos primeiros discos, que carregavam o DNA da banda em seu estado puro.

Explicando um pouco a expressão “bunda-mole” que utilizei: me refiro a músicas mais lentas, baladas, coisas mais “acessíveis” ao público e flertes com estilos “da moda”, deixando o peso de lado e às vezes abandonando completamente tudo que a banda significava. Pressão da gravadora? Vontade de fazer sucesso e aparecer para um público ainda maior? Uma verdadeira mudança de direção criativa? Na minha opinião, as duas primeiras opções me parecem mais críveis, embora o otimismo às vezes me leva a acreditar na terceira.

Se você nunca notou essa guinada bunda-mole que as bandas costumam ter, vamos a alguns exemplos para você comparar. Veja se concorda comigo:

Raimundos
“Nega Jurema” (1º disco – Raimundos – 1994)
“A Mais Pedida” (5º disco – Só No Forévis – 1999)

 

Slipknot
“Surfacing” – (1º disco – Slipknot – 1999)
“Vermillion” – (3º disco – Vol 3 – The Subliminal Verses – 2004)

 

 

The Offspring
“Beheaded” – (1º disco – Offspring – 1989)
“Crusing California” – (9º disco – Days Go By – 2012)

 

Titãs
“Bichos Escrotos” (3º disco – Cabeça Dinossauro – 1987)
“Antes de Você” (13º disco – Sacos Plásticos – 2009)

 

Red Hot Chili Peppers
“No Chump Love Sucker” (3º disco – The Uplift Mofo Party Plan – 1986)
“Californication” – (7º disco – Californication – 1999)

 

Green Day
“2000 Light Years Away” – (2º disco – Kerplunk – 1992)
“Oh Love”  – (9º disco – Uno! – 2012)

 

Goo Goo Dolls
“Up Yours” – (2º disco – Jed – 1989)
“Iris” – (6º disco – Dizzy Up The Girl – 1998)

 

E na sua opinião, porque isso ocorre?
Pressão da gravadora?
Vontade de fazer sucesso a qualquer custo?
Mudança de direcionamento musical?
A famigerada parceria com Rick Bonadio?

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