20 das piores versões em português já feitas para músicas internacionais
Novamente, voltamos à pauta das covers e versões. No garimpo que fiz para preparar os posts sobre o tema, me deparei com algumas que são covers “traduzidas” e outras que transformam completamente o sentido da canção original. Lógico que não somos só nós, brasileiros, que fazemos isso (temos o exemplo de “Ai, Se Eu Te Pego” que foi coverizada em diversas línguas). Mas quando conseguimos fazer uma versão horrenda… ah, é de doer os ouvidos.
Separei 20 das piores versões em português para músicas internacionais. Levei em consideração a adequação ao tema original, métricas e como a versão conseguiu transformar o que a original dizia. Algumas são dignas de enfiar uma agulha de tricô ouvido adentro sem dó. Prepare-se.
Original: “Surfin USA”, dos Beach Boys
Versão brasileira: “Surf É O Que Eu Sei”, de Juba e Lula
Dá pra dar um desconto pra esta primeira, já que é uma versão de Juba e Lula, a dupla protagonista de Armação Ilimitada. E não dá pra esperar grandes arroubos de genialidade do duo apaixonado por Zelda Scott, certo? A versão em português para o hit do Beach Boys chupado de “Sweet Little Sixteen” do Chuck Berry tem de tudo: rimas pobres, transformação da letra original e gírias malandrovskis que não se usa mais. Um clássico.
Original: “If everybody had an ocean / Across the USA / Then everybody’d be surfin’ / Like California / You’d seem ‘em wearing their baggies / Huarachi sandals too / A bushy bushy blonde hairdo / Surfin’ USA”
Versão: “Eu não fugi da escola / Uma zero nunca tirei / Meu professor ta de prova / Que eu sempre me esforcei / Até entendo de história / E saco português / Mas quando chego na praia / Surf é o que eu sei”
Original: “Wind of Change”, dos Scorpions
Versão brasileira: “Como o Vento”, do Yahoo
No começo, a versão do Yahoo parece um xerox perfeito dos Scorpions, dando inclusive para confundir as duas. Até que entra a voz em português e pronto: você está prestes a ouvir a música sobre a queda do Muro de Berlim ser transformada em uma baba romântica de deixar Julio Iglesias encabulado. Aliás, o Yahoo era especialista nessas coisas.
Original: “Take me to the magic of the moment / On a glory night / Where the children of tomorrow dream away /
In the wind of change”
Versão: “Vento, diz pra ela: “Eu te amo / Só agora eu sei / Eu te amo como nunca eu te amei / Eu também mudei”
Original: “Gangnam Style”, de Psy
Versão brasileira: “Laçar Puxar Beijar (Despedida de Solteiro)”, de Latino
Latino havia feito uma divertida versão para “Dragostea Din Tei” que tomou o Brasil: “Festa No Apê” trouxe o cantor de volta à mídia e às paradas de sucesso. Aí ele resolveu apostar no filão “versões em português para músicas”. Tentou com “Simarik”, do Tarkan e “Chacarron”, mas o fundo do poço foi quando o ex-funkeiro de bigodinho resolveu transformar o hit sul-coreano “Gangnam Style” em uma história de péssimo gosto sobre uma despedida de solteiro. Não funcionou e o vídeo foi um dos mais odiados na época.
Original: “Eh sexy lady / Op, op, op, op oppan Gangnam style / Ehh sexy lady, oh, oh”
Versão: “Hey, eu quero sexo / Vou te pegar / Hey, eu quero sexo / Pra galopar”
Original: “Linger”, dos Cranberries
Versão brasileira: “Se a Gente Se Entender”, da Angélica
O disco de 2001 de Angélica foi também seu último. O quanto disso se deve à versão assombrosa para “Linger”, dos Cranberries, eu não sei, mas acho que foi bom parar. A intenção era agradar o público adulto e deixar o visual “infantil” pra trás, mas só conseguiu irritar bastante os fãs dos Cranberries. Ah, e cantar no Caldeirão do Huck.
Original: “You know I’m such a fool for you / You got me wrapped around your finger / Do you have to let it linger? /
Do you have to, do you have to, do you have to let it linger?”
Versão: “Será que você / Também não soube resolver / Quem sabe se a gente se falasse / Fosse mais fácil entender / Bem mais fácil, é mais fácil / Se a gente se entender”
Original: “Eye In The Sky”, do Alan Parson’s Project
Versão brasileira: “Um Mundo Só Pra Nós”, do Gáz
Essa aqui doeu só de ouvir. Sério, ouça a original e a versão na sequência e tente não rir da versão do Gáz. Aliás, quem é Gáz? Bom, o mais importante é que sumiu do mapa.
Original: “I am the eye in the sky / Looking at you / I can read your mind / I am the maker of rules / Dealing with fools / I can cheat you blind”
Versão: “Eu sou a chama que vai / Buscar o futuro de tempos atrás / Um oceano de luz com barcos escuros / Distante do cais”
Original: “Jealous Guy”, de John Lennon
Versão brasileira: “Ciúmes de Rapaz”, de Markinhos Moura
É, Lennon, você não tem sossego mesmo. A versão de Markinhos Moura pra “Jealous Guy” até tenta pegar a letra e deixar fiel à original, mas não consegue. Só o título já mostra o que vem por aí.
Original: “I didn’t mean to hurt you / I’m sorry that I made you cry / Oh, no, I didn’t want to hurt you / I’m just a jealous guy”
Versão: “Eu construí mil muros, eu destruí um coração / Foi sem querer, coisas de rapaz / Ciúme, e nada mais”
Original: “Ben”, de Michael Jackson
Versão brasileira: “Meu Bem”, de Jairzinho & SImony
Poxa, gente. Acho que essa aqui merecia uma salva de palmas apenas por transformar o nome “Ben” em “bem”, uma manobra tão sem-vergonha que não dá pra não rir. Ah, a musiquinha de amizade que Michael fez (pra um rato, mas vamos relevar isso) virou uma canção de amor do casalzinho do Balão Mágico e ganhou um arranjo cheio de tecladinhos desnecessários oitentistas.
Original: “Ben, most people would turn you away / I don’t listen to a word they say / They don’t see you as I do / I wish they would try to / I’m sure they’d think again / If they had a friend like Ben”
Versão: “Bem tem tanta coisa pra fazer / Bem tem tanto tempo pra passar / Bem agora é so brincar / Brincar de namorar / Gostar de te dizer / E de te chamar meu bem”
Original: “Vicious”, de Lou Reed
Versão brasileira: “Vi Shows”, do Hanoi Hanoi
Essa aqui é um sacrilégio tão grande que não dá nem pra descrever. Transformaram o clássico de Lou Reed em poesia barata e mesmo o arranjo original perdeu todo seu ritmo. Precisando de um indutor de vômito? “Vi Shows” foi feita pra isso. Prepare o estômago.
Original: “Vicious, you hit me with a flower / You do it every hour / Oh, baby you’re so vicious”
Versão: “Vi shows / De gente tão drogada / Virando a madrugada / Atrás de pó e de amor”
Original: “Stumblin’ In”, de Chris Norman e Suzi Quatro
Versão brasileira: “Seguindo Você”, de Rodrigo Otarola
A parceria de Suzi Quatro e Chris Norman virou uma letra cheia de clichês em “Seguindo Você”, de Rodrigo Otarola. Aliás, “Otarola” é um anagrama de “A lorota”. Sei lá, achei legal citar isso. Ah, a rima de “você” com “você” no começo é um primor de criatividade.
Original: “Our love is alive, and so we begin / Foolishly laying our hearts on the table / Stumblin’ in”
Versão: “Te amo demais / Me amarro em você / Fico tão triste andando sozinho / Lembrando você”
Original: “Hey Jude”, dos Beatles
Versão brasileira: “Hey Jude”, de Kiko Zambianchi
Lembra dessa? Chegou a tocar nas rádios e foi trilha da novela “Top Model”. Já que John ganhou a versão horrenda de Markinhos Moura, como Paul ficaria de fora? Sabe a vida? Ainda é bela.
Original: “Hey, Jude, don’t make it bad / Take a sad song and make it better”
Versão: “Hey, Jude / pra que chorar? / Sabe a vida? / Ainda é bela”
Original: “YMCA”, do Village People
Versão brasileira: “Eu Sou Mais Eu”, do The Fevers
Em 1979, o The Fevers teve a péssima ideia de adaptar “YMCA”, a música do quinteto de fetiches Village People que estourou nas pistas de dança e até hoje toca em festas e casamentos. Não preciso dizer que a versão é desastrosa, né?
Original: “Young man, there’s no need to feel down / I said, young man, pick yourself off the ground / I said, young man, ‘cause you’re in a new town / there’s no need to be unhappy”
Versão: “Diga, que eu não sirvo mais pra você / Diga, que eu só quero é meu prazer / Diga, egoista eu sou, eu só penso em mim somente”
Original: “Amada Mia Amore Mio”, de El Passador
Versão brasileira: “A Magra e a Gorda”, de Alberto Kelly
Tenho quase certeza que você não conhece nem a original, nem a versão, neste caso. Mas faça o seguinte: ouça as duas e veja como Alberto Kelly transformou uma letra dançante sobre amor em uma música anti-gordinhas de péssimo gosto.
Original: “Amada mia, amore mio”
Versão: “A magra é minha, a gorda é tua”
Original: “Killing Me Softly”, de Roberta Flack
Versão brasileira: “Faz Eu Perder o Juízo”, de Zezé di Camargo
Essa aqui devia ser crime inafiançável. Pegar uma música linda como “Killing Me Softly” e transformar em um pastiche pálido e cheio de afetação com letra brega e clichê? Não pode fazer uma coisa dessas, Zezé…
Original: “Strumming my pain with his fingers / Singing my life with his words / Killing me softly with his songs”
Versão: “Faz eu perder o juízo / Mexe com o meu coração / Faz eu perder o sentidos”
Original: “Take My Breath Away”, do Berlin
Versão brasileira: “Se É Amor Não Sei”, de Cleiton & Camargo
Não é só Zezé di Camargo que canta versões horríveis: seus irmãos também curtem dar uma estragadinha em músicas estrangeiras. Essa aqui eu descobri sem querer, em uma festa junina da Portuguesa em que a dupla cantou, lá por 1998.
Original: “Watching every motion / In my foolish lover’s game / On this endless ocean / Finally lovers know no shame / Turning and returning / To some secret place inside / Watching in slow motion / As you turn around and say”
Versão: “Uma luz azul tocou meu peito outra vez / Mas meu coração lembrou do que você me fez / Sinto medo da paixão de novo me tocar / E molhar de solidão o sol do meu olhar”
Original: “Grease”, de Frankie Valli
Versão brasileira: “Assim Que Eu Sou”, do Polegar
Não confundir com o hit “Sou Como Sou”, também do Polegar. A boy band fez uma versão da música de abertura do filme Grease começando com a frase “Eu mato a cobra e ainda mostro o pau”. Supimpa.
Original: “I solve my problems and I see the light / We got a lovin’ thing / We gotta feed it right”
Versão: “Eu mato a cobra e ainda mostro o pau / a minha geração / não dá resfresco, não”
Original: “I Should Be So Lucky”, de Kylie Minogue
Versão brasileira: “Acho Que Sou Louca”, de Simony
Outra que merece palmas por manter a fonética e mudar completamente o sentido original da letra. Só sendo louco mesmo pra aguentar Simony cantando essa em sua tentativa de transição de estrela infantil para cantora adulta.
Original: “I should be so lucky / Lucky, lucky lucky”
Versão: “Acho que sou louca/ Louca, louca louca”
Original: “So Lonely”, do Police
Versão brasileira: “Solange”, de Léo Jaime
Uma das melhores músicas do início do Police foi transformada por Léo Jaime. A transformação fonética de “So Lonely” em “Solange” chega a ser engraçadinha, mas é realmente uma das piores coisas que já foram feitas em território nacional em matéria de versão em português. É de ranger os dentes.
Original: “But I just can’t convince myself / I couldn’t live with no one else / And I can only play that part / And sit and nurse my broken heart / So lonely / So lonely”
Versão: “Eu tento me esparramar / E você quer me esconder / Eu já não posso nem cantar / Meus dentes rangem por você / Solange, Solange”
Original: “Unbreak My Heart”, de Toni Braxton
Versão brasileira: “Um Sonho a Mais”, de Jayne
Quem é a cantora Jayne? Eu realmente não sei. Mas ela é responsável pela horripilante “Um Sonho a Mais”, uma versão de “Unbreak My Heart” cheia de verbos no infinitivo pra rimar. De deixar Badauí com inveja. Tem um combo de “sonhar”, “amar” e “tocar” que realmente só com muita alma poética pra aguentar.
Original: “Unbreak my heart / Say you’ll love me again / Un-do this hurt you caused / When you walked out the door / And walked outta my life / Uncry these tears / I cried so many nights”
Versão: “Um sonho a mais / Diz que ainda me quer / Me faz pensar que estou com você / E que vou nesse sonho te amar / Me faz sentir / Só quero te tocar / Me faz sonhar”
Original: “Please Mr. Postman”, das Marvelettes
Versão brasileira: “Carona”, de Sula Miranda
A música que ganhou versões de sucesso com os Beatles e os Carpenters também ganhou versões medonhas como a de Sula Miranda, onde o carteiro é transformado em caminhoneiro e o sentido original da música vai pro saco, junto com qualquer resquício de bom gosto. Eu também poderia citar a versão horrenda de Supla para a mesma música, que virou “Carolina” no disco “Menina Mulher”, mas preferi falar sobre o Papito no próximo tópico.
Original: “Oh yes, wait just a minute mister postman / Wait, wait mister postman / (Mister postman look and see) oh yeah /
(If there’s a letter in the bag for me) / Please mister postman / (I’ve been waiting a long long time) oh, yeah / (Since I heard from that girl of mine)”
Versão: “Stop oh! yeh! pare aí caminhoneiro / oh! oh! oh! caminhoneiro / Quando te vi quase enlouqueci (oh! yeh!) / Naquela curva esperando por mim (oh! meu caminhoneiro) / Gata agora vou te conquistar (oh! yeh!) / Minha boléia é feita pra amar”
Original: Várias
Versão brasileira: O disco “Menina Mulher”, do Supla
A vigésima posição não poderia ser diferente. Supla, depois de se reerguer graças ao “Piores Clipes do Mundo” e a “Casa dos Artistas”, resolveu lançar seu próprio “disco de covers”. Mas ele não parou nas covers: seu disco “Menina Mulher”, de 2004, é todinho de versões em português (exceto “Aquela Sexta-Feira”, autoral). Então, temos pérolas como “Cenas de Ciúme”, uma versão de “I Ran” do Flock Of Seagulls e a já citada “Carolina”, de “Please Mr. Postman”, além de “Verão de Dezembro”, versão estranha de “Return To Sender” do Elvis Presley. Esse aqui é uma aula de como fazer versões que transformam completamente a música. Vale a pena ouvir inteiro.
1. | “Menina Mulher (I’m the Leader of this Gang)” (lançada originalmente por Gary Glitter) | 2:17 |
2. | “Cenas de Ciúmes (I Ran)” (lançada originalmente por A Flock of Seagulls) | 3:08 |
3. | “Eu Já Não Quero Mais (I Won’t Let You Down)” (lançada originalmente por Ph.D.) | 3:00 |
4. | “Aquela Sexta-feira” | 1:55 |
5. | “Baby Doll (Baby Talk)” (lançada originalmente por Billy Idol) | 3:01 |
6. | “Coração em Chamas (Wicked Game)” (lançada originalmente por Chris Isaak) | 4:44 |
7. | “Verão de Dezembro (Return to Sender)” (lançada originalmente por Elvis Presley) | 1:56 |
8. | “Virginia (Heartbreaker)” (lançada originalmente por Pat Benatar) | 2:20 |
9. | “Tina (I Want You to Want Me)” (lançada originalmente por Cheap Trick) | 2:34 |
10. | “Carolina (Please Mr. Postman)” (lançada originalmente por The Marvelettes) | 1:57 |
11. | “Tititi (Shake It Up)” (lançada originalmente por The Cars) | 2:49 |
12. | “Paixão pra Esquecer (Flowers by the Door)” (lançada originalmente por TSOL) | 3:11 |
13. | “Telefone (Hanging on the Telephone)” (lançada originalmente por Blondie) | 2:04 |